A notícia da indicação de Paulo Rabello de Castro para a presidência do IBGE é extremamente preocupante. O indicado, amigo do presidente interino, é vinculado a interesses privados, em especial do mercado financeiro. Trata-se de diretor presidente da SR Rating e fundador da RC Consultores, empresas de consultoria financeira que elaboram projeções que são vendidas no mercado, utilizando, dentre outros, dados do IBGE.
As informações produzidas e disponibilizadas pelo IBGE são intensamente utilizadas em pesquisas no Brasil e no exterior – pesquisas de comparabilidade internacional – por sua reconhecida qualidade e excelência. Necessário lembrar que as pesquisas do IBGE sempre nos colocaram em igualdade de condições, sob o ponto de vista da qualidade e confiabilidade dos dados, com os pesquisadores dos países centrais. Com mais de 220 publicações ao ano, o IBGE produz uma verdadeira radiografia do país, em sua diversidade de aspectos (econômicos, sociais, demográficos, políticos, geocientíficos) com dados que são utilizados desde a formulação das políticas macroeconômicas ao cálculo do fator previdenciário, ou para a distribuição de recursos dos royalties do petróleo, passando pela distribuição do FPE e do FPM, tão essenciais em particular aos pequenos municípios. Assim, o IBGE representa nossa sociedade de forma universal, e não pode ser apropriado por grupos com interesses específicos e pontuais. Antes, deve ser dotado com autonomia, sem qualquer influência ou submissão a interesses de governos ou do mercado, como forma de garantir sua imparcialidade e a confiabilidade dos dados que produz.
Em sua trajetória, o IBGE sempre foi presidido por professores e profissionais vinculados às universidades ou órgãos públicos. As últimas gestões foram de servidores públicos, ainda indicados pelos governos, mas servidores da carreira. Estamos diante de, no mínimo, um conflito de interesses, uma vez que o acesso privilegiado aos dados do IBGE será concedido a uma pessoa ligada diretamente à iniciativa privada. E conflito de interesses é algo detectado a priori: antes que aconteça um problema, é preciso evitá-lo. Se consolidada essa indicação, sempre restaria viva na sociedade a desconfiança sobre a credibilidade institucional. A diferenciação do IBGE em relação a institutos de mercado reside, justamente, na qualidade e a independência a interesses particulares construídas ao longo dos seus 80 anos de história, assegurada, em grande medida, pela especialização, conhecimento acumulado e compromisso de seu corpo de funcionários. A atual indicação prejudica a imagem de isenção do Instituto. A autonomia técnica do IBGE é imprescindível para manutenção de sua credibilidade, a fim de que se evite situações como as que ocorreram recentemente na Argentina.
É preciso refletir sobre as condições do órgão e unir a comunidade acadêmica em torno de sua defesa e fortalecimento. Atualmente, 44% dos servidores tem 31 anos ou mais de casa, 1/3 recebe abono permanência (já pode pedir aposentadoria), novos servidores entram nas poucas vagas abertas por concurso público (só em 2014 houve quase 600 aposentadorias) e herdarão a responsabilidade de seguir com a história do IBGE com mais da metade da força de trabalho composta por trabalhadores temporários e instáveis. Um dos bens mais valiosos do IBGE é sua cultura institucional, construída ao longo dos 80 anos por gerações de trabalhadores dedicados à missão do órgão. Em momentos cruciais como esse é de fundamental importância que esta cultura possa ser transmitida e reavivada. Apoiamos a demanda dos trabalhadores pela realização de um Congresso Institucional, no qual o futuro do IBGE possa ser discutido ampla e democraticamente com os servidores do órgão. Ademais, no caminho para consolidar a autonomia técnica do instituto, a sociedade brasileira e os trabalhadores do IBGE merecem que o governo trate com respeito a reivindicação histórica de que possam eleger o Presidente da instituição para um mandato fixo. Essa reivindicação traduz os anseios da sociedade democrática para que não paire sobre as instituições públicas suspeição alguma sobre sua credibilidade.
Assinam a nota:
- Lívio Sansone / Dep de Antropologia e Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) / UFBA
- Lígia Bellini / Historiadora / UFBA
- Adalberto Cardoso / sociólogo / professor do IESP-UERJ
- Meirilene Rodrigues Maia/ geógrafa/ UESB
- Íris Gomes dos Santos / Cientista Política/ Pesquisadora UFBA
- Sonia Sampaio / Educadora / UFBA
- João Feres Júnior / Cientista Social / Instituto de Estudos Sociais e Políticos – IESP/UERJ
- Marcelo Badaró Mattos – Professor do Departamento de História da UFF
- Maria Luzia Miranda Álvares / Cientista Política / Universidade Federal do Pará
- Annibal Muniz Silvany Neto/Médico Sanitarista/UFBA
- Ricardo Salles, historiador, UNIRIO.
- Antonio Augusto Passos Videira, professor de filosofia da UERJ
- Geraldo Moreira Prado / Historiador / UFRJ
- Edilson Fortuna de Moradillo/Químico/Instituto de Química da Ufba
- Frederic Vandenberghe / Sociólogo / IESP/UERJ
- Fátima Tavares / antropóloga/ UFBA
- Antonio Sérgio Alfredo Guimarães / Departamento de Sociologia / USP
- José Geraldo Silveira Bueno / Pedagogo / PUC-SP
- Edward MacRae / antropólogo / UFBA
- Silke Weber / socióloga / UFPE
- Celeste Maria Philigret / Faculdade de Economia / UFBA
- Georgina Gonçalves dos Santos / Assistente Social / Vice-reitora UFRB
- Maria Rosa Lombardi / socióloga / Fundação Carlos Chagas
- Edleusa Nery Garrido / Psicóloga / UNEB
- Sueli Goulart / Professora em Administração / UFRGS
- Virgínia Fontes / historiadora / UFF e Fiocruz
- Susana Maria Veleda da Silva / Geografia / Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
- Ruy Braga / Sociólogo / USP
- Maria Cristina C. L. Pereira/professora/FFLCH-USP
- Marta Inez Medeiros Marques / Geografia / FFLCH-USP
- Ana Elisabeth Rodrigues Faro/ Socióloga/UFBA
- Homero Santiago / professor do departamento de filosofia / FFLCH-USP
- Lucio José de Sá Leitão Agra / Cecult / UFRB
- Sérgio Lúcio Garcia Ramos / Filósofo / ENSP / Fiocruz
- José Maurício Domingues / Sociólogo / IESP-UERJ
- Luís César Oliva / Filósofo / FFLCH-USP
- Pietro Caldeirini Aruto / Economista / IE-UNICAMP
- Maik Antunes/Professor/Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais.
- Adma Muhana, docente de Literatura Portuguesa, FFLCH-USP
- Laura Graziela Gomes / Antropóloga / UFF
- Fernanda Aguiar Carneiro Martins / Cinema e Audiovisual /UFRB
- Graça Druck / Socióloga / UFBA
- Paulo Fontes/Historiador/CPDOC-FGV
- Prof. Marcelo Embiruçu / Engenheiro / UFBA
- Guilherme Dornelas Camara/ Administração/ UFRGS
- Márcio André Fernandes Martins/ Professor DE / UFBA.
- Ricardo Dathein/Economista/UFRGS
- Ieda Maria Alves – Profa. Titular – FFLCH-USP.
- Luiz Antonio Machado da Silva / cientista social / IESP-UERJ
- Remo Mutzenberg/Sociólogo/UFPE
- Luiz Augusto E. Faria / Economista / UFRGS
- Camila Furlanetti Borges /professora-pesquisadora / FIOCRUZ
- Marcia de Paula Leite / Socióloga / UNICAMP
- Valter Roberto Silvério/Sociólogo/UFSCar
- Humberto Miranda / economista / UNICAMP
- Manuel Jauará / Sociólogo / UFSJ
- Floriano Godinho de Oliveira / Geógrafo / UFRJ
- Sean Purdy / Historiador / USP
- Danielle Ribeiro de Moraes / médica sanitarista / EPSJV/FIOCRUZ
- Renata Rocha / Pesquisadora em Políticas Culturais/CULT-UFBA
- Camila Camargo Vieira/ antropóloga/ Nucleo de Artes Afrobrasileiras-USP
- Ruda Ricci / Cientista Social / Instituto Cultiva
- Ana Luíza Matos de Oliveira / Economista / IE-Unicamp
- Jacques-Marie François Depelchin / historiador / UEFS
- Deise Mancebo / Psicóloga / UERJ
- Laura Cristina Simões Viana / Engenheira / Fiocruz
- Iris Kantor / Historiadora / USP
- Victoria Puntriano Zuniga de Melo / Ciências Sociais/ Unicamp
- Liliana Rolfsen Petrilli Segnini / Cientista Social / Unicamp
- Antonio Albino Canelas Rubim / Sociólogo / UFBA
- Joannes Paulus Silva Forte / Sociólogo / UNICAMP
- Lylia da Silva Guedes Galetti / Historiadora – UFMT
- Cristina Massadar Morel / Psicóloga / Fiocruz
- Iolanda de Oliveira / Educação / UFF
- Paulo Roberto Cardoso da Silveira / Dr. Ciências Humanas / UNIPAMPA
- Denise Dias Barros, Terapeuta Ocupacional, USP
- Jairo da Matta, Sociólogo, FIOCRUZ
- Teresa Peixoto Faria/Arquiteta/UENF
- Fernanda Ma. Gonçalves Almeida / pesquisadora da UFBA.
- Gloria Meyberg Nunes Costa / Engenheira / UFBA
- Paulo Alberto dos Santos Vieira / Economista / UEMT
- Elena O’Neill / Historiadora da Arte / UERJ
- Adriana Abelhão / Economista / Biblioteca Popular de Itaquaciara Dona Nélida
- Vanicléia Silva Santos – Historiadora-UFMG
- Gleisse Kelly Meneses Nunes, Bióloga, Fundação Oswaldo Cruz
- João Tude / Administrador / UFBA
- Jaenes miranda alves/ Economista /UESC
Coletivos:
- Grupo Interdisciplinar de Estudos Sobre Psicoativos / UFBA
- Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura / UFBA
Novas adesões individuais ou coletivas podem ser encaminhadas para o email rabellonoibge@gmail.com .
Juarez torres duayer diz
Como professor da Universidade Federal Fluminense venho manifestar meu total acordo com as preocupações manifestadas pela comunidade acadêmica quanto à indicação do presidente do IBGE.
Helder Mafra Medeiros diz
A muito em que fazer pelo Brasil..em termos de especialização de formados nos quadros sociais do país..pelo visto e não dito o IBGE esta se tornando uma grande escola preparatória de profissionais temporários que passaram pela instituição como a nossa. Como sou formado em carreira e tenho formação de biodiversidades como a da Amazônia e do mundo. Sei da suma importância para a elevação e distribuição de pessoal preparado para a vida publica e civil..nesse mercado saturado por erros econômicos e de ma distribuição de renda entre conceitos de conhecimentos e aproveitamento de mão de obra qualificada..não é justo que ainda sermos misturas pois isso acaba com a nossas economias e reservas mal aplicadas entre tantos que precisam ainda se especializarem em suas metodologias de conhecimentos..algo que elevaria o nivel de padrão de vida de todos e um desafio para as novas formações institucionais..espero que o Brasil decole perante o mundo e seus equilíbrios para uma nova consciência de qualidade de povos entre mundos diversificados em todo o planeta.