RABELLO DEIXA PRESIDÊNCIA, MAS OS TENTÁCULOS TEMEROSOS PERMANECEM / CHEGOU A HORA DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA NO IBGE – No final da tarde de 26 de maio os ibgeanos foram surpreendidos com a saída de Paulo Rabello de Castro da Presidência do Instituto, convidado para dirigir o BNDES. Como tudo que ocorre no desgoverno Temer, as decisões são tomadas de forma atabalhoada e sem qualquer satisfação a quem quer que seja.
Às vésperas de completar 81 anos de existência o IBGE tem sua imagem arranhada por um presidente que utilizou a instituição como um palanque para defesa do governo e suas contrarreformas, e com ainda mais extravagância para a projeção de si próprio, seja para alça-lo ao BNDES, seja para estrear na grande imprensa como presidenciável depois de ter percorrido o país em questionáveis encontros com governadores e outras autoridades, sempre à custa do dinheiro público.
Não deixará saudades, mas abandona o IBGE deixando um legado desastroso. Rabello, “o breve”, como ele mesmo gosta de se autodenominar, veio para impor sua visão liberal e privatista no IBGE. Gaba-se de ter obtido recursos para um Censo Agro apequenado, em troca do qual os trabalhadores jamais estiveram dispostos a abrir mão da autonomia técnica do IBGE.
Apesar da resistência, a imagem do IBGE foi manchada por uma política que coloca o Instituto sob o fogo cerrado de analistas e da mídia. O IBGE de Rabello de Castro é o “pesque e pague”, que deve vender pesquisas a quem der mais; o IBGE de Rabello de Castro é o do Censo Agro atrofiado, questionado por todas as organizações independentes que lidam com a questão fundiária no Brasil; o IBGE de Rabello de Castro é o que precisa se explicar na mídia por uma mudança abrupta de metodologia de pesquisas, que incidem sobre o cálculo do PIB do país; o IBGE de Rabello de Castro é o que convida Temer para um encontro de chefias e lhe concede medalha.
Ambicionando preservar seu projeto no IBGE e afastar de si a imagem de aventureiro que é, recorre à demagogia comum a seus aliados para vender-se como ibgeano, enquanto sua verdadeira lealdade pode ser verificada da transformação do personagem que contrariava os dados para defender a reforma da previdência, para aquele “pós JBS”, que disse um “dane-se” ao governo em entrevista ao Valor Econômico.
Projeto central de sua gestão que permanece e deve ser combatido de forma ferrenha, é a proposta de mudança do Estatuto do IBGE, elaborado a portas fechadas por um grupo, sem qualquer consulta ao corpo técnico da casa.
Por este projeto, a Direção do IBGE ficará subordinada a um colégio de notáveis, ao qual é dado o nome pomposo de “Conselho Superior de Gestão”, formado pelo Presidente e cinco pessoas indicadas por ele, inclusive pessoas absolutamente alheias ao IBGE, além de representantes de quatro ministérios. Para aprovar no Congresso Nacional este projeto que centraliza o poder nas mãos do Presidente, foi formada uma frente parlamentar (GEMA), que conta com o entusiasmo de deputados ficha-suja.
Trata-se da usurpação do poder da própria Direção do IBGE, que se mantém calada, agarrada a seus cargos e a interesses menores. E mais: é a partir desta nova estrutura que poderemos ter, em breve, um IBGE aberto ao “mercado” e cada vez mais distante de sua missão institucional de retratar a realidade brasileira.
Apesar de destes fatos que assombraram a instituição nestes últimos meses, muito há que se comemorar nesta data. Afinal, foram gerações de ibgeanos que ergueram o maior e mais importante órgão de pesquisas e estatísticas oficiais da América Latina, um dos mais respeitados do mundo, que com nossa luta resistirá a estes graves ataques
É justamente em nome desses milhares de servidores que defendemos mudanças no IBGE. Temos dois caminhos: 1) manter tudo como está, com uma estrutura centralizadora e o IBGE como um órgão menor, sem recursos, sem pessoal, e sujeito à arbitrariedades como as que estamos vivendo; 2) democratizar a estrutura do IBGE, com ampla participação de seus servidores, exigindo verbas e condições de trabalho digno.
Como tem feito nos últimos anos, a ASSIBGE-SN alerta: a solução dos problemas do IBGE, assim como da sociedade brasileira, não sairá da indicação, por cima, de algum “iluminado”, mas da participação ativa e democrática dos servidores, em consonância com os usuários dos serviços que prestamos. Por isso, nesses 81 anos de IBGE, defendemos:
. Autonomia técnica do IBGE, com eleição direta do Presidente, dos chefes de departamentos e das Unidades Estaduais do IBGE;
. Nenhuma alteração no Estatuto do IBGE sem a participação de seus servidores;
. Convocação de congresso institucional, que discuta e estabeleça uma nova estrutura, as metas e o orçamento capaz de abarcar o conjunto das atividades do IBGE;
. Fim da exploração de trabalho temporário e concursos públicos para preencher milhares de vagas de trabalho em aberto no IBGE;
. Reestruturação da carreira, para assegurar progressão, promoção e condições salariais compatíveis com a responsabilidade dos servidores do IBGE.
Executiva Nacional da ASSIBGE-SN
29 de maio de 2017
Carmen diz
Importante testemunho de uma gestão tão nefasta. Como critica e informação. Dias melhores pra todos vcs.
Noel Silva diz
A saída “desabestada” do Paulo Rabello de Castro da presidência do IBGE foi um presente pro aniversariante de 81 anos. Parabéns IBGE.