Em entrevista concedida no dia 5 de março o ministro da Economia, Paulo Guedes, cita a possibilidade de revisão do PIB de 2019, calculado pelo IBGE em 1,1%. O constrangimento do governo se explica porque no início do ano a previsão era de um crescimento de 2%, o que foi sendo desmentido pelo fraco desempenho da economia.
O IBGE não “erra” todo ano quando calcula o PIB, como quer fazer crer, maliciosamente, o ministro da Economia. O IBGE faz revisões de suas pesquisas porque este é o procedimento correto, sempre visando dar a maior confiabilidade possível aos dados que divulga.
No Sistema de Contas Nacionais Trimestrais, as principais fontes de informação utilizadas para estimar a produção das empresas não financeiras são as pesquisas conjunturais do IBGE, de frequência mensal. Quando os dados definitivos são calculados, parte das estimativas feitas com base nas pesquisas conjunturais são substituídas por informações provenientes das pesquisas por empresa, realizadas pelo IBGE, chamadas também de pesquisas estruturais e que têm frequência anual, com maior cobertura.
Essa é a principal mudança entre os dados provisórios e definitivos no que diz respeito às diferentes fontes de informação utilizadas. A atualização de fontes segue recomendações internacionais para o sistema de Contas Nacionais. Portanto, os procedimentos de revisão de dados são rotineiros e metodologicamente previstos.
No entanto, o IBGE não faz mágica. Ainda que o PIB de 2019 seja revisto para cima, provavelmente ficará longe de um resultado satisfatório para um país das dimensões e potencialidades do Brasil.
Até mesmo o Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Facundo, mostrou sua preocupação e considerou que não é “normal” um país como o Brasil crescer 1% ao ano.
Também não é correto construir com “contabilidade criativa”, ao arrepio da metodologia de cálculo do PIB no âmbito do Sistema de Contas Nacionais da ONU, uma estimativa de PIB privado e outra do PIB do governo. Não faz nenhum sentido dizer que o setor privado cresce com o encolhimento do público. Não é o que nossa realidade histórica mostra, mediante a forte dependência do investimento público.
Essa interpretação tem uma faceta absolutamente cruel, pois o que se considera nessa “metodologia” para a composição do PIB do governo são o gastos em saúde, educação e serviços de previdência e assistência. Seria o caso de comemorar a redução de oferta de serviços públicos para a população?
O ministro pretende desqualificar o trabalho da instituição que apresenta em números a realidade, para desacreditar o que revela. Assim, quebra-se a possibilidade de monitoramento das políticas do governo através das estatísticas públicas. O mesmo tem sido feito com outros centros de pesquisa, como o INPE, Fiocruz, Ipea e Ibama.
A ASSIBGE SN se mantém na defesa do IBGE e de seus trabalhadores que, apesar dos baixos recursos e das carências crônicas de pessoal, buscam incessantemente manter a qualidade do trabalho.
OBS: O Sindicato encaminhou à diretoria do IBGE um ofício (anexo), frisando a necessidade de que ela defenda publicamente a instituição, o que é sua obrigação.
Executiva Nacional da ASSIBGE – Sindicato Nacional
Rio, 6 de março/2020
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