Em comunicado publicado na sexta-feira, a presidência do IBGE divulgou a existência de um procedimento de apuração em relação a possíveis irregularidades envolvendo a Science, entidade associativa privada que estaria utilizando, em 2024, a estrutura da Escola Nacional de Ciências Estatísticas.
A Science existe há 32 anos e em seu quadro de associados conta (ou contava até recentemente) com 5 servidores ativos do IBGE, dentre os quais o atual diretor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas. Antes de mais nada, é preciso avisar que entre os referidos servidores associados da Science não há nenhum diretor da Executiva Nacional da ASSIBGE, tampouco coordenadores de núcleos da ASSIBGE, assim como não há nenhum dos 4 diretores e diretores adjuntos do IBGE que entregaram seus cargos recentemente.
De modo geral, não há nenhum elemento na documentação divulgada que relacione alguma possível irregularidade às centenas de IBGEanos que vem se manifestando contra a medidas da gestão atual do IBGE, seja em atos de rua, seja na recente carta pública com assinatura de 125 coordenadores e gerentes. Nesse sentido, a linguagem propositalmente confusa adotada no Comunicado da Presidência, buscando associar as possíveis irregularidades aos servidores que têm protestado contra a gestão foi ato de deliberada desinformação, aproximando-se de uma prática difamatória.
A apuração, conforme a documentação divulgada, teve início em 15 de outubro. Nas semanas anteriores, os servidores promoveram mobilizações contra a criação da fundação de direito privado IBGE+ e outras medidas autoritárias da gestão Márcio Pochmann. Naquela data, os servidores já haviam realizado um grande ato em frente a sede do IBGE (26 de setembro), uma live de debate sobre a Fundação IBGE+(9 de outubro) e um dia de paralisação na unidade da Av. Chile (15 de outubro). Fica evidente, portanto, que a apuração foi uma resposta a mobilização dos servidores, e não o contrário, como tenta apresentar a direção do IBGE.
A ASSIBGE sempre combateu conflitos de interesse no IBGE, e historicamente foi crítica a atuação da Science. Assim como o conjunto de servidores, a ASSIBGE apoia qualquer procedimento apuratório conduzido com seriedade e preservando o pleno direito de defesa, evitando abordagem midiáticas e precipitadas que ataquem a reputação dos servidores e a imagem do Instituto.
No plano político, não podemos deixar de apontar que a apuração de irregularidades na Science, associação que serviu indisfarçavelmente como fonte de inspiração para a Fundação IBGE+, reforça os alertas que temos realizado em relação a essa última. Uma série de características da Fundação IBGE+ (escopo de atuação ampliado, nome quase idêntico ao do IBGE, possibilidade de acesso direto a fundos públicos, possibilidade de empregar diretamente servidores do IBGE, entre outras) apontam que ela tende a apresentar problemas semelhantes aos verificados com a Science, mas em uma ordem de grandeza incomparavelmente superior.
A ASSIBGE reforça a orientação para que todos os IBGEanos sigam se mobilizando em torno da defesa do IBGE, lutando pela democratização e autonomia técnica.
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