IBGE confirma Censo 2021, mas orçamento preocupa
Pesquisa vai custar R$ 2 bilhões, R$ 300 milhões a menos do que havia sido previsto inicialmente
Por: Lucianne Carneiro — Valor Econômico
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu início ontem ao concurso para 204 mil vagas temporárias para o Censo 2021 – com a publicação dos editais para recenseadores e agentes censitários -, confirmando a realização do recenseamento este ano, após o adiamento em 2020 em função da pandemia. O processo será feito com todos os protocolos de segurança, reforçam seus técnicos, para permitir a realização da pesquisa mais importante para retratar o Brasil sem riscos tanto para as equipes de trabalho quanto para os brasileiros que receberão os recenseadores em suas casas.
O IBGE confirmou, no entanto, que o custo da pesquisa será de R$ 2 bilhões – como previsto no Orçamento enviado pelo governo ao Congresso no ano passado e que ainda precisa ser aprovado -, o que significa redução de R$ 300 milhões frente aos R$ 2,3 bilhões planejados em março do ano passado, antes da decisão de adiar o recenseamento. Esta é a segunda vez que ocorre recuo no valor, que era de R$ 3,4 bilhões em 2019, mas foi reduzido após restrições orçamentárias do governo federal.
O coordenador de Recursos Humanos do IBGE, Bruno Malheiros, e o diretor-adjunto de pesquisas, Cimar Azeredo, reforçaram que as revisões do orçamento do Censo 2021 não comprometem a qualidade da pesquisa, mas especialistas e a Executiva Nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE) veem com preocupação mais uma redução no valor destinado ao censo, especialmente em função do contexto da pandemia, que exigiria investimentos maiores, tanto em equipamentos de segurança quanto em campanhas de comunicação para convencer os brasileiros da importância de receber os recenseadores em suas casas.
“Não acredito que haja segurança para realizar o censo de forma adequada com esse orçamento. Acho muito pouco provável que a qualidade seja preservada. No ambiente complexo da pandemia, os custos aumentam e essa deficiência orçamentária se exacerba”, afirma o professor titular aposentado de Economia Social e do Trabalho da Unicamp e ex-membro do Conselho Consultivo do Censo 2020, Claudio Dedecca.
Ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto também vê com preocupação a questão do orçamento. “Em qualquer pesquisa estatística, o risco é maior quando se reduz o orçamento, há mais chances de ocorrerem problemas. E é preciso estar atento para enfrentar estas situações. Com uma pandemia, a dificuldade aumenta, inclusive a disposição de as pessoas receberem os recenseadores. É preciso muito planejamento”, diz ele.
Na avaliação da diretora da Executiva Nacional do ASSIBGE Dione Oliveira, a nova redução do orçamento, neste contexto de pandemia, torna a realização do Censo 2021 ainda mais sujeita a problemas. Ela lembra, por exemplo, que é preciso investir em divulgação para mostrar as medidas de segurança do IBGE e tornar os brasileiros mais seguros para participar do recenseamento. “É preciso massificar a divulgação, mas como fazer isso com um orçamento ainda menor?”, questiona.
Para além da discussão sobre o orçamento, especialistas alertam ainda para a difícil decisão sobre realizar ou não o Censo em 2021. A pandemia amplia a complexidade de uma pesquisa do porte do censo, com informações sociodemográficas exclusivas para a população de cada município do país, ao visitar 71 milhões de domicílios. Ao mesmo tempo, reforça a importância de retratar o país neste momento. Por outro lado, adiar para 2022 compromete a periodicidade de uma pesquisa que é realizada a cada dez anos e as comparações, já que se distanciará ainda mais do ano original, que era 2020.
Olinto defende que a decisão deveria ter sido mais discutida com especialistas de fora do instituto e com usuários da pesquisa. Ele reconhece que a questão não é fácil e não há uma resposta clara, mas diz que a redução do orçamento e a pandemia aumentam ainda mais os riscos para a realização do censo, o que indicaria uma decisão compartilhada com outros pesquisadores.
Dione Oliveira também defende mais transparência para as decisões sobre o censo, mas aponta que a Executiva Nacional do ASSIBGE ainda não tem posição colegiada sobre qual seria a melhor estratégia: realizar o censo em 2021 ou adiar para 2022. Na próxima semana, será realizada uma reunião para decidir o tema.
Já Claudio Dedecca defende de forma incisiva a realização do censo em 2021 – embora com um orçamento maior. Para ele, é importante evitar novo adiamento, que acarretaria diferença ainda maior em relação ao censo de 2010. “Fazendo a coleta em 2022, só teríamos os dados em 2023. Minha posição é que o censo deve ser feito mesmo em 2021, mas obviamente com todos os cuidados sanitários necessários neste momento”, aponta.
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