O assassinato de Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, é um recado. As forças conservadoras e corruptas que comandam o país não aceitam ser confrontadas pela população mais pobre. Essas forças, encrustadas e acobertadas pelo aparelho de Estado, usam e abusam da violência contra a população das favelas, bairros populares e periferias, territórios excluídos da presença de serviços básicos, impondo o terror como método de ação. Nisso não se diferem em nada do tráfico varejista de drogas.
O Rio é uma das cidades em que mais se mata e mais se morre por armas de fogo em todo o país, vitimando pessoas fora da lei, policiais e inocentes. Além da violência cotidiana, os mais pobres são obrigados a conviver com a disputa de territórios entre traficantes e milicianos. A postura das forças policiais tem sido propositalmente ineficaz no combate a esses grupos, até porque parte da polícia usufrui dos ganhos dessas quadrilhas e os repassa aos que indicam parte dos comandantes da PM e delegados de Polícia.
Marielle Franco foi assassinada porque sempre combateu pela causa dos direitos da população mais desfavorecida. Nascida e criada na favela da Maré, sua luta foi sempre a favor dos direitos humanos, hoje tão deturpada por esses mesmos conservadores. Os mesmos que pregam e praticam a violência como forma de manter seus negócios, que envolve não apenas o tráfico de drogas, mas também a venda de armas, segurança privada, sinal de internet e TV à cabo, transporte de vans, botijões de gás e outros negócios.
A violência policial, de milícias e traficantes está claramente ligada a interesses econômicos. Sob a alegação de que é preciso mais violência para combater a violência dos bandidos e garantir a segurança do cidadão de “bem”, violam frequentemente os 30 pontos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário. Mas essa violação só acontece nos bairros pobres, nas periferias e favelas, nunca nos bairros nobres, onde se encontram os grandes criminosos de colarinho branco.
A ASSIBGE – Sindicato Nacional, organização sindical que participou da resistência contra a ditadura militar, sempre em defesa dos direitos dos servidores do IBGE, inclusive o de sindicalização, não pode se omitir neste momento. Justamente quando o governo Temer impõe um interventor ao Estado do Rio de Janeiro, como cortina de fumaça para seu fracasso político, a apuração e solução deste crime hediondo e que afronta a frágil democracia brasileira é determinante para que se esclareça à opinião pública a que veio essa intervenção militar.
Nunca é demais lembrar que Marielle Franco foi eleita relatora da Comissão de Representação de Acompanhamento da Intervenção Federal no Rio de Janeiro e sempre se posicionou contra a intervenção.
A ASSIBGE-SN se solidariza com os amigos, companheiros e familiares de Marielle. Exigimos que este crime seja investigado, que seus mandantes e executores sejam punidos e que haja uma ampla reforma das forças policiais, afastando corruptos e assassinos. Exigimos que a apuração dos fatos seja acompanhada diretamente por uma comissão independente, formada por representantes da sociedade civil organizada.
Executiva Nacional da ASSIBGE-SN
15 de março de 2018
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