A tragédia que virou comédia
Essa situação não foi vivida por mim, mas por um colega que me relatou. Quando entrei no IBGE, em 1983, no antigo Departamento de Levantamentos Geodésicos/DF, ainda estavam na ativa alguns dos chamados pioneiros dos levantamentos geodésicos. O envolvido nesse caso era um deles.
Foi em meados da década de 1950, no interior da Bahia, durante a atividade de mapeamento de referência. Naquela época o IBGE utilizava os jipes fornecidos pelas forças armadas dos EUA, veículos robustos, lataria resistente e apropriados para as tarefas de campo.
Um tempo em que os próprios chefes de setores eram os responsáveis pelo pagamento das diárias dos trabalhadores. Era comum que o banco mais próximo ficasse distante do local do acampamento, o que ocasionava deslocamento do chefe a fim de retirar a quantia devida.
O sujeito em questão era um dos chefes com autorização de fazer o pagamento das diárias. Num desses deslocamentos, para “cortar” caminho, pegou uma estrada vicinal de terra batida.
Como não havia movimento algum, tratou de pisar no acelerador do jipão para retornar mais cedo com o dinheiro do pessoal. Daí em diante reproduzo o relato do colega.
“Num determinado momento, do nada apareceu uma caminhonete véia, cambando pro lado, saindo de uma porteira de fazenda, sem parar para ver se vinha algum veículo”, relatou.
“Menino (no caso eu e era um menino), só deu tempo de desviar e xingar um sonoro ‘F.D.P!’ “Toquei pra frente. Mais uns quilômetros topei com uma birosca. Pensei em tomar um café para me refazer do susto. Parei o jipão e desci. Logo percebi que minha botina estava desamarrada. Agachei para amarrar, quando levantei dei de cara com o cano de uma espingarda, mirando a minha testa.
O sujeito falou: ‘E agora seu cabra, quem é ‘fdp?’.
Gelei e respondi: ‘Nesse momento o maior fdp aqui sou eu’.
“O sujeito me olhou um instantinho e caiu numa gargalhada. ‘Gostei da resposta, um cabra com esse senso de humor não merece morrer de tiro. Merece é me acompanhar numa lapada de cana’, disse.
“Bebendo a cana, conversamos sobre o quase acidente. Ele contou que aquela estrada era tão ruim, mas tão ruim que ninguém passava por lá. Daí sua despreocupação ao sair da fazenda.
“No final sugeriu que eu pegasse outro caminho, em melhores condições, que faria meu retorno mais rápido. Agradeci a pinga, a dica e fui cumprir minha tarefa.”
Por Nilo Cesar, um geodesista, ibgeano, aposentado.
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