Crise de pessoal no instituto pode comprometer levantamentos fundamentais para o conhecimento da realidade do país e a formulação de políticas públicas –
Vital para os brasileiros saberem quantos e quem são, o Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) vive uma crise de pessoal que pode comprometer levantamentos como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e o Censo Demográfico de 2020. É que, dos 5,7 mil servidores efetivos, concursados, do instituto, pouco mais de 1,4 mil – ou 25% – já têm condições de se aposentar.
O alerta foi feito pelo Diretor de Pesquisas do IBGE, Cláudio Dutra Crespo, em depoimento recente no Congresso Nacional. “Se não houver recomposição será difícil fazer o que fazemos hoje. Fazer pesquisa requer infraestrutura”, afirmou.
Cláudio Crespo afirmou que pesquisas como a Pnad – que levanta dados como sexo, idade, educação, trabalho e rendimento dos brasileiros, além de características dos domicílios – a ser realizada em 2019 pode ficar comprometida, assim como o Censo de 2020.
Levantamentos como esses são fundamentais não apenas para o conhecimento da realidade do país, mas para a formulação de políticas públicas.
No Censo, serão visitados 6,5 milhões de domicílios no país. Na Pnad, são 200 mil a cada trimestre. O IBGE tem contratado trabalhadores temporários para recenseadores.
O Sindicato Nacional dos Servidores do IBGE (AssIBGE) critica o que entende como precarização do trabalho a substituição progressiva de concursados por temporários, “com salários menores e condições de trabalho piores”. Essa troca se dá, nos últimos anos, especialmente entre os Agentes de Pesquisa e Mapeamento, que analisam os dados das pesquisas, os indicadores.
Segundo o sindicato, desde a redemocratização do país o número de servidores efetivos do IBGE tem diminuído. Baixou de 13,6 mil em 1989 para 5,7 mil no final de 2016. Uma perda de 57,7% ao longo de 27 anos. A perda maior se deu entre os profissionais de nível intermediário (60,7%). O número de funcionários de nível superior diminuiu 28,3%.
A publicação “Precarização do trabalho no IBGE”, de abril de 2017, do AssIBGE, diz que essa redução decorre de uma tripla articulação: aposentadorias crescentes; ausência de concursos nos anos 1990 e reposição de baixa intensidade nos anos 2000; e substituição de força de trabalho efetiva por temporária.
O número de aposentadorias cresce significativamente ao longo do tempo e isso se reflete na evolução do número de aposentados em folha de pagamento do IBGE. Tomando apenas o período mais recente, o número de aposentados sai de 5.276, em 2008, e chega a 7.074, no final de 2016, um aumento de 34,07%.
Nesse período, o IBGE concedeu um total de 2.832 aposentadorias (uma média de 354 por ano) e, na outra ponta, ingressaram no órgão 1.708 trabalhadores efetivos, via concurso (média de 244 por ano).
Brasília/Evandro Éboli/[02/01/2018]
Gazeta do Povo
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