Coordenadores do IBGE no RS querem adiar Censo e ameaçam entregar cargos
Um grupo de 36 coordenadores de área do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no estado do Rio Grande do Sul lançou nos últimos dias um manifesto solicitando o adiamento do Censo Demográfico por mais um ano por conta da pandemia de covid-19. Eles dizem que, se o cronograma de atividades presenciais for mantido, irão entregar os cargos de chefia no estado.
No documento, distribuído para servidores de outros estados, os funcionários citam como problema o agravamento da pandemia de covid-19 por todo o país. A coleta de dados estava prevista para iniciar em agosto. No entanto, desde março, os servidores mantêm uma rotina interna de treinamentos e testes para que durante os trabalhos de campo não ocorram problemas.
O Censo é atualizado de dez em dez anos, mas com a pandemia ele foi adiado do ano passado para este ano. Agora, é pleiteado um novo adiamento por falta de segurança já que as entrevistas são presenciais nas residências das pessoas em todo o país.
No documento dos coordenadores gaúchos, eles dizem que “entendem ser imprescindível o imediato adiamento do Censo Demográfico para 2022”. Ao mencionar a gravidade da situação atual, os servidores dizem que a “grande maioria, inclusive, caso seja mantido o projeto de realização do Censo Demográfico neste ano, está disposta a abrir mão do seu cargo de Coordenador de Área”. O principal motivo alegado: “não podemos assumir a responsabilidade do risco de vida das pessoas”.
Os coordenadores dizem que já apresentaram o posicionamento para a direção do IBGE no Rio Grande do Sul e que foram orientados a manter as atividades remotamente, no protocolo de home office, para aguardar o pronunciamento da direção do IBGE. Eles estão propondo uma reunião, por videoconferência, até o fim do mês para definir o adiamento das atividades do Censo para 2022.
No documento, os coordenadores informaram que não serão realizadas vistorias em postos de coleta ou reuniões presenciais. Mas as atividades de rotina da agência serão mantidas remotamente, como já são feitas desde o início da pandemia no ano passado.
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE deu apoio ao movimento iniciado no RS em reunião na semana passada. “A plenária definiu por ampliar esse debate em todo o país envolvendo os coordenadores do Censo e todos os trabalhadores. A conclusão da plenária do sindicato é que não há condições sanitárias de realização do Censo ou para se retomar a coleta presencial. A prioridade é a saúde dos trabalhadores e da população. A coleta presencial oferece riscos para ambos”, afirmou Dione de Oliveira, diretora do sindicato.
A coluna apurou que, antes da pandemia, o IBGE pretendia captar dados do Censo pela internet, na tentativa de diminuir os problemas causados por cortes no orçamento feitos pelo Ministério da Economia. A alternativa, no entanto, não funcionou.
Durante o Censo Experimental, em Poços de Caldas (MG), apenas 4,4% dos 59.619 domicílios da cidade mineira responderam à pesquisa pela internet. O número ficou bem abaixo das expectativas, que previa que 20% do total da coleta fosse feito assim.
Em apresentações internas sobre o Censo, o principal embasamento do órgão para o sucesso das respostas pela internet na edição brasileira da pesquisa era o alto nível de questionários on-line preenchidos em outros levantamentos censitários pelo mundo, como no Canadá, Estônia e Portugal. Nestes países o índice foi superior a 50% dos domicílios em edições recentes.
Mas, no Censo de 2010, dos mais de 58 milhões de domicílios recenseados, apenas 43 mil responderam ao questionário pela internet, representando uma participação inferior a 0,1%. Dos 5.565 municípios brasileiros existentes à época, apenas 15 conseguiram atingir taxas de resposta superiores a 1%.
Procurada, a direção do IBGE não retornou aos contatos da coluna.
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