Em meio ao debate sobre cortes no Censo Demográfico de 2020, a presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Susana Cordeiro Guerra, exonerou nesta segunda (6) o diretor de Pesquisas do instituto, Claudio Crespo. Também foi exonerado o diretor de Informática, José Santana Beviláqua.
A possibilidade de cortes entrou no alvo do Ministério Público Federal, que enviou a Guerra na última sexta (3) ofício solicitando informações sobre o processo, alegando risco de interrupção na construção de séries históricas de dados sobre a população brasileira.
Em nota divulgada nesta segunda, o IBGE confirmou as exonerações e disse que a presidente do instituto convidou o demógrafo Eduardo Rios-Neto e o economista David Wu Tai para substituir Crespo e Beviláqua, respectivamente.
Rios-Neto é professor na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e o segundo, funcionário de carreira do IBGE há 40 anos.
São as primeiras mudanças promovidas na diretoria do instituto desde a posse de Guerra, no fim de fevereiro. A presidente do IBGE foi indicada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e recebeu como missão cortar o orçamento do Censo, cuja previsão inicial era R$ 3,4 bilhões.
No mês passado, Guerra determinou um corte de 25% na projeção. Ela desagradou o corpo técnico da instituição ao dar ao economista Ricardo Paes de Barros, do Insper, a missão de propor alternativas para reduzir os custos da pesquisa.
Com visitas aos cerca de 70 milhões de domicílios brasileiros, o Censo é realizado a cada dez anos e tem o objetivo de compor um retrato da população brasileira. É a maior operação do instituto: nesta segunda, o governo federal autorizou o IBGE a contratar 234 mil temporários para coletar e organizar os dados.
A pesquisa está sob o comando da diretoria de Pesquisa. Segundo servidores do IBGE, Crespo vinha se posicionando de forma contrária a cortes no orçamento.
“Essa decisão reforça a postura do governo [Jair] Bolsonaro de intervir no IBGE, o que ficou evidente nas declarações do próprio presidente questionando os dados da Pnad Continua [a pesquisa que mede o desemprego]”, disse, em nota, a Assibge (entidade que representa os funcionários do instituto).
No início do mês, o presidente da República questionou dados que mostravam o aumento do desemprego em fevereiro, dizendo que a metodologia do IBGE “não mede a realidade”, pois considera desempregado apenas a pessoa que está procurando emprego.
O IBGE defendeu que a metodologia segue recomendações da OIT (Organização Internacional do Trabalho). De acordo com os resultados da última Pnad Contínua, divulgada na semana passada, o Brasil tinha em março 13,4 milhões de desempregados.
“A presidente [do IBGE] manifesta seu agradecimento e reconhecimento pelo empenho, qualidade técnica e compromisso institucional demonstrado pelos diretores Claudio Crespo e José Santana Beviláqua no período em que trabalharam juntos”, disse, em nota, o instituto.
Segundo o MPF, Guerra terá cinco dias para responder se procedem notícias sobre corte no Censo e enviar pareceres jurídicos e estudos técnicos que suportam a decisão.
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