via: Articulação Nacional das Carreiras Públicas para o Desenvolvimento Sustentável.
O jornal Folha de São Paulo está insistindo na narrativa de que o fato de os servidores públicos pagarem maiores contribuições do IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física) seria sinônimo de privilégios e altos salários em relação ao setor privado.
Mais uma vez, a publicação tirou conclusões equivocadas de dados para falar sobre o funcionalismo público, sem deixar claro se o alvo da matéria é a elite dos servidores – ou se os servidores devem vistos como elite no país. A ombudsman da Folha alertou há algumas semanas estas falhas, e o jornal insiste no erro.
Em primeiro lugar, a matéria desconsidera que existem diversas manobras fiscais para profissionais liberais e executivos driblarem a contribuição para o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), enquanto servidores têm sua contribuição – que pode variar até 27,5% – descontada direto em folha. Assim, utilizar o IRPF para aferir as maiores remunerações do país é desonesto.
O jornal também usa o Distrito Federal como exemplo, falando sobre o perfil da contribuição de IR em certos bairros da capital do país e sobre os salários de cargos federais. Ao falar de bairros ricos, esquece que não são só juízes, ministros e outros membros da classe política que moram nesses bairros, mas também empresários, lobistas, advogados. Somente no meio da reportagem, o jornal lembra que juízes, procuradores e ministros não estão abrangidos na tal reforma administrativa.
Por fim, para provar sua tese, ignora-se a grande desigualdade remuneratória no setor público, que ocorre de maneira ainda mais profunda na iniciativa privada. Em tempos de distorções de fatos, é sempre importante lembrar que mais de 50% dos servidores ganham menos de R$ 3 mil ao mês, enquanto somente 3% ganham mais de R$ 19 mil.
No afã de aprovar uma proposta anunciada como fiscalista, o jornal paulista parece que não leu e avaliou o que foi enviado ao Congresso: ao flexibilizar a estabilidade, criar outras formas de contratação precarizadas e dar poderes ditatoriais ao chefe do poder executivo, o que está em jogo não é o tamanho do Estado, mas a própria democracia. O que a PEC 32/2020 representa é um projeto autoritário de poder.
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