via: Jornal o Globo
RIO — A retomada das discussões sobre o Orçamento de 2021 no Congresso tem estimulado funcionários do IBGE a se mobilizar novamente por recursos para a realização do Censo. A ideia é articular com parlamentares uma verba maior que a projetada até agora.
Além de ter sido adiada para o ano que vem por conta da pandemia, a pesquisa sofreu cortes nos recursos inicialmente previstos, no início do governo Bolsonaro.
O Censo estava orçado em R$ 3,1 bilhões até 2018. No início do governo Bolsonaro, em 2019, a nova direção reduziu em 25% o custo da pesquisa, para R$ 2,3 bilhões.
Parte desse valor foi entregue ao IBGE em 2020, e a proposta de Orçamento para 2021 prevê o uso de R$ 2 bilhões para a pesquisa.
Nesta terça-feira, o Sindicato Nacional dos Servidores do IBGE – Núcleo Chile lança o livro “Censo 2021 – Experiências na América do Sul”, com depoimentos de palestrantes de um seminário realizado no ano passado.
O evento discutiu os impactos que os problemas de planejamento nos resultados de pesquisas censitárias tiveram em outros países da América Latina.
— O Chile teve um grave problema por conta de mudanças no planejamento e cortes no orçamento, o que levou o Censo a ser jogado no lixo. Depois, tiveram que refazê-lo. É um risco enorme mudar o planejamento da pesquisa que vem sendo projetada há cinco anos — afirma Dione Oliveira, da Executiva Nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE).
Impacto sobre distribuição de vacinas
O temor dos funcionários do instituto é o de que o orçamento destinado seja insuficiente para a realização da pesquisa com o mesmo padrão experimentado em censos anteriores. Eles pedem ainda que a recomposição da verba seja reconsiderada também por conta da pressão inflacionária em 2020.
Na avaliação de Oliveira, o orçamento reduzido dificulta, sobretudo, a coleta feita pelos recenseadores, que visitam domicílios por todo o país.
— O orçamento do Censo envolve gastos com equipamentos, pessoal, deslocamento… Há toda uma logística para deslocar funcionários em todo o território para a coleta presencial, que é o nosso foco. E, além da questão orçamentária, temos a pandemia. Os novos trabalhadores podem se contaminar, há um risco alto. É preciso proteger esse profissional — afirma Oliveira.
A associação também questiona o corte nos questionários da pesquisa. O questionário simplificado, aplicado a 90% dos cerca de 71 milhões de domicílios brasileiros saiu de 37 perguntas, em 2010, para 25.
O questionário da amostra, aplicado aos 10% restantes, foi reduzido de 112 para 76 perguntas.
A coordenadora da Assibge Núcleo Chile, Luanda Botelho, ressalta que os resultados da pesquisa serão fundamentais para a estratégia dos prefeitos eleitos:
— Não tem política pública que prescinda do Censo. Até a distribuição de vacinas pelo território precisa do Censo, pois é a partir dele que sabemos, por exemplo, quantos idosos existem em cada município do país — afirma Botelho.
Articulação com Congresso
Com a discussão sobre o Orçamento no Congresso Nacional, a associação tem buscado sensibilizar parlamentares para pleitear uma recomposição de verbas.
Na última segunda-feira, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) apresentou na Câmara dos Deputados o projeto de lei 5394/2020, que veda a redução de verbas no Orçamento de 2021 para a realização do Censo Demográfico.
A proposta deve tramitar nas comissões antes de ser votada no plenário. Oliveira considera favorável o projeto, mas afirma que o objetivo da associação é a ampliação do orçamento:
— No ano passado tivemos a comissão mista e lutamos por uma emenda ao orçamento, mas foi difícil avançar porque a própria instituição disse que não precisava. Esse ano estamos conversando com parlamentares e é bem-vindo qualquer iniciativa que venha para recompor o orçamento.
Segundo a associação, não há um retorno claro da instituição sobre o planejamento previsto para a próxima pesquisa censitária.
— Em um contexto de pandemia, é preciso dizer qual é o planejamento, e até agora a gente não sabe. Não temos reunião, não temos diálogo. Nos comunicamos por ofício, mas quase nunca a gente tem retorno. É muito complicado — questiona a executiva do sindicato.
Em nota, o IBGE afirmou que “o valor de R$ 2 bilhões em 2021 atende a todas as despesas com o preparo e a execução da coleta de dados e já foi ajustado tendo em conta as despesas que foram antecipadas em 2020 com o orçamento que permaneceu no IBGE quando o Censo foi adiado. As despesas com o pessoal censitário contratado em 2020 em nada interfere no orçamento de 2021”.
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