Em meio a polêmica mudança na avaliação de desempenho do comércio e serviços, servidores denunciam uso político do Instituto – Na segunda semana de abril, o IBGE divulgou dados que mostraram uma forte revisão do desempenho do comércio e dos serviços em janeiro em duas sondagens, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). O primeiro levantamento do IBGE, no início do mês, revelava indicadores negativos desses setores. Isso apontava para a incapacidade do governo de recuperar a economia, frustrando uma promessa ancorada no varejo, no setor terciário, na recomposição de estoques na indústria e na expectativa de recorde na colheita de grãos.
Para contornar a evidência negativa, o IBGE mudou os critérios e apresentou nova sondagem, desta vez, de crescimento. De uma queda de 0,7% nas vendas no varejo de janeiro na comparação com dezembro, o próprio IBGE apresentou um crescimento de 5,5% no comércio, o que representa uma revisão de 6,2% acima do dado original. Da mesma forma, o desempenho do setor de serviços foi revisto de 2,2% negativos para 0,2% positivos (2,4% acima da primeira projeção).
Em virtude disso, a prévia do PIB calculada pelo Banco Central, o IBC-Br, resultou em um crescimento de 1,31% em fevereiro sobre o mês anterior, embora não tenha ocorrido recuperação do crédito ou do emprego. Ao contrário, o crédito encolheu e o desemprego disparou. O desemprego ficou em 12,6% no trimestre fechado em janeiro, maior taxa da série histórica do IBGE iniciada em 2012. De novembro a janeiro, a população desocupada chegou a 12,9 milhões de pessoas. Em março, o comércio foi o setor da economia que mais fechou postos de trabalho, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho: 33.909 demitidos. O setor de serviços, segundo pior desempenho, fechou 17.086 postos de trabalho em março.
A mudança de critérios causou estranheza ao sugerir uma manobra para esconder a recessão. O gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Pedro Quinstslr, explicou que o cálculo inicial do indicador considerava como base o ano de 2011 e, a partir de janeiro, esse critério passou a ser o ano de 2014. “O que nós fizemos foi um aprimoramento da metodologia. Foi feita uma atualização da amostra de informantes”, explicou. Em artigo publicado no dia 24 de abril na revista Carta Capital e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE-SN), o economista e professor da Unicamp, Pedro Paulo Zahluth Bastos, descarta que tenha ocorrido manipulação. Segundo ele, “não há nada errado em mudar a metodologia para melhorá-la, e o órgão faz isto com frequência. O problema é a descontinuidade brusca da série estatística anterior e a baixa transparência com que a mudança vem sendo feita”, aponta.
O próprio sindicato dos servidores do IBGE, em manifesto divulgado no dia 20, logo após a divulgação dos novos indicadores, tratou de afastar a suspeita de fraude, mas não poupou os desmandos do novo presidente do IBGE, Paulo Rabello de Castro: “…a ASSIBGE-SN repudia qualquer ilação sobre ‘manipulação’ de dados e reafirma a seriedade e o compromisso do corpo técnico do IBGE. No entanto, alertamos que dúvidas sobre essas correções são levantadas, na medida em que a condução do Instituto está entregue a um Presidente mais preocupado em fazer propaganda do governo Temer do que em preservar a instituição”. Ao Extra Classe, Cássius de Brito, da direção colegiada do ASSIBGE, afirma que as metodológicas da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) já vinha sendo estudada. “Isso normalmente ocorre porque a realidade econômica muda com o tempo e algumas mudanças na amostra, cálculo de calibradores, modelos de dessazonalização precisam ser feitas. Mas para explicar a razão, só mesmo a equipe técnica responsável pela pesquisa ou a própria direção do IBGE”. Segundo o dirigente, a mudança tem impacto direto nos indicadores da economia, nos setores, mas não na inflação. O Sindicato, no entanto, acusa o economista Paulo Rabello de Castro, de atentar contra a autonomia do Instituto ao transformá-lo em palanque para defesa das reformas do governo federal – leia entrevista.
Jornal Extraclasse Sinpro/RS
Por Gilson Camargo
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