Num novo passo para ampliar o uso de registros administrativos do governo em suas pesquisas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai passar a coletar o número de CPF de moradores entrevistados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) a partir do ano que vem.
Com o número do documento, o IBGE poderá, futuramente, parear as informações da Pnad Continua com registros administrativos da Receita Federal e do Cadastro Único de Programas Sociais (o que ainda dependeria de futuros convênios). Seria uma forma de complementar sua base estatística e eventualmente reduzir tamanho de questionários.
A intenção de incluir a pergunta do CPF a partir do próximo ano foi transmitida internamente a servidores do IBGE. Procurado, o órgão não comentou a informação. Nos corredores do instituto, porém, parte dos servidores mostrou-se reticente com os resultados a serem obtidos e suas consequências para a pesquisa.
Uma técnica, que pediu para não ser identificada, disse que a preocupação é que a pergunta pelo número do documento “feche” o domicílio. No jargão dos estatísticos, isso significa haver recusa do entrevistado em responder às perguntas do questionário. Atualmente, cerca de 2 mil entrevistadores visitam 70 mil domicílios por mês na Pnad Contínua.
“Em teoria, o pedido do CPF facilitaria o pareamento com bases de registros administrativos. Na prática, é um argumento a menos dos entrevistadores para convencer os informantes a respeito do sigilo dos dados do IBGE. Eles não poderão mais alegar que nenhum documento será pedido. “Pode aumentar recusa ou prejudicar a qualidade dos quesitos sobre renda”, disse uma servidora.
Apesar de o IBGE garantir sigilo das informações individuais coletadas, as famílias mais ricas já tendem a subnotificar suas rendas aos entrevistadores, seja por receio da Receita Federal, seja por motivos de segurança. O mesmo valeria para uma parcela mais pobre da população, que recebe benefícios como Bolsa Família apesar de ter rendimentos pelo trabalho informal.
Segundo técnicos, o pedido de número do CPF e RG teria apresentado resultado “ruim” no Censo Experimental, realizado em Poços de Caldas (MG) este ano. Trata-se de um simulado do Censo 2020, que vai a campo em meados do próximo ano. Internamente, servidores foram informados que a pergunta não funcionou no Censo por outro motivo: entrevistadores foram orientados a não pedir os documentos já que “o sistema nem sempre abria a pergunta”.
Procurado pela reportagem, o IBGE não comentou a inclusão do pedido de documento no questionário da Pnad Contínua. Num informe interno aos servidores, de caráter mais informal, porém, a posição era que a pergunta seria realizada apenas na quinta visita aos moradores, de forma a evitar recusas por outras informações. E que seria realizada apenas após a questão sobre rendimentos.
Bruno Villas Bôas e Thais Carrança (Rio)
Valor – 10/12/2019
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