Em sua apresentação no primeiro debate da série “Que conjuntura é essa?”, a filósofa e escritora Márcia Tiburi destacou que a grande vítima desta etapa do capitalismo são as nossas relações. “Só novas relações entre os seres humanos e a natureza podem nos livrar do capitalismo e de suas mazelas”. Segundo Tiburi, é preciso renovar numa direção de generosidade uns com os outros.
“Na cultura política que vivemos hoje no Brasil, ainda que haja uma forte conotação de fascistização, há também a chegada de outros atores, nos quais coloco minha fé e esperança”, disse Márcia. São eles os povos indígenas, as mulheres negras, a juventude dos movimentos de ocupação. No entanto, segundo a expositora, os partidos estão caretas, machistas, rançosos, feios, não seduzem ninguém.
De acordo com Tiburi, o que chamávamos de esquerda em décadas passadas não é mais o que definimos como de esquerda. “A esquerda de hoje é inovadora, muito diferente do passado, o que conforma outra conjuntura dentro da própria esquerda. Já aquilo que chamamos de direita hoje é a pior coisa que poderia acontecer, retrocede ao século passado”.
Para Márcia a marca do governo golpista é o “constrangimento”, o que nos torna inoperantes. “Não estamos sabendo o que fazer com esse “constrangimento”, como se vivêssemos imobilizados diante da figura de Temer, em forma de múmia ou vampiro assustador. Todos acham inacreditável o que está acontecendo”. Márcia está convicta de que o projeto deste governo interino é de um “Brasil comoditie”, de abate pelo capitalismo internacional.
“Ainda não conseguimos entender a profundidade do retorno das múmias da política e do processo perverso. O projeto é a desmobilização das pessoas. A armação do golpe tem algo de terrível e o avanço depende dessa encenação diante da população e da própria esquerda que visa ao esvaziamento da política”, conclui.
“Em que condições hoje podemos fazer política se todas elas levam a um esvaziamento das nossas ações”, questiona Márcia. Para ela, isso significa uma política do atraso e um atraso da política. Tiburi reforça que é preciso agregar as massas. “Desligar a TV seria uma forma poderosa de protesto. O golpe, além de institucional, é também um golpe midiático”.
De acordo com a filósofa, todo governo esvaziado depende do que chama de “próteses políticas”: pessoas e ações que sejam promovidas. “O exemplo disso seria a reportagem da revista Veja sobre a mulher do Temer, como um enfeite para melhorar sua imagem. Toda a bancada bufona fundamentalista cumpre muito esse papel, tem a função de prótese política, são engraçados”.
Para Tiburi será preciso também dar um novo significado ao voto, mais lúcido e consciente. “Alexandre Frota (ator/ativista) cumpre o papel de um bobalhão, mas para os mais humildes que estão acostumados com personagens como ele, é um cara bacana”, ilustrou a expositora. De acordo com Márcia a desinformação é um aspecto a ser trabalhado. “É preciso desmontar essas próteses, e da mesma forma desmontar as próteses que surgem no seio da esquerda, como Lula e outros.”
A filósofa sugere que se estude com mais afinco a questão da ocupação. “É o melhor conceito político dos nossos tempos, com os exemplos mundo afora. Luiza Erundina ocupou a cadeira do Cunha e isso foi um pequeno exemplo”. Ela acredita que é preciso ocupar todos os espaços, inclusive com mais veemência do discurso.
Ao mesmo tempo, Tiburi levanta um desafio: ocupar em que direção e com que profundidade? Como convidar as pessoas para isso de forma generosa? “O capitalismo nos dá a TV, os shoppings, a acomodação de forma sedutora”, alerta.
Everson SIlva diz
Eu posso estar enganado, mas debate não seria a discussão entre pelo menos duas ideias diferentes sobre um tema? Se houver apenas a fala e discurso de um ponto de vista sobre qualquer assunto, torna-se uma palestra e não um debate.
Henrique Acker diz
Everson, este foi apenas o primeiro de uma série de debates. Os convidados apresentaram pontos de vista diferentes sobre alguns temas, mas infelizmente a Márcia teve que se retirar antes do encerramento.