Mas afinal, para quem Rios Neto fala?
Em evento virtual realizado na manhã do dia 14 de junho, ficou claro que Rios Neto, atual Presidente do IBGE, não está dialogando com os trabalhadores da instituição, mas está servindo como um porta-voz do Governo Bolsonaro. Durante a fala motivacional do Presidente do IBGE, dirigida aos censitários, foi possível extrair três informações concretas e preocupantes: a estrutura do IBGE será enxugada através do teletrabalho; o trabalho temporário avançará sem precedentes; e ele não conhece Milton Nascimento.
Segundo Rios Neto, o IBGE será pioneiro no teletrabalho a ser implementado ainda esse ano. O teletrabalho faz parte do projeto TransformaGov do Governo Federal, marcado principalmente pela redução do investimento no serviço público e na precarização da prestação de serviços. Evidentemente, o teletrabalho se apresenta de forma atrativa para alguns trabalhadores que não precisarão fazer longos deslocamentos para as estruturas já precarizadas do IBGE e nem estarão submetidos aos rígidos controles de ponto eletrônico. Por outro lado, a proposta de teletrabalho, como está sendo desenhada pelo Governo, merece atenção por parte dos trabalhadores por conter pontos não divulgados nas propagandas: transferência de custos, aumento de metas, impossibilidade de realização de algumas atividades e isolamento do convívio social. Além disso, o teletrabalho realizado de forma massificada, sem estudos preliminares e sem a participação dos trabalhadores no seu projeto poderá se voltar contra os servidores e os usuários dos serviços públicos. Afinal, para um governo que coloca granadas no bolso do servidor, dinamitar toda estrutura é apenas um detalhe.
Outro ponto que chamou a atenção na fala de Rios Neto foi a naturalização do trabalho temporário. Para o Presidente do IBGE, vínculos precários e sem garantias trabalhistas é algo normal e até bom para a instituição. Ao que tudo indica, ele desconhece a demanda por pessoal efetivo em todo IBGE e as mais de 6 mil vagas, para cargo efetivo, aguardando empenho por parte do seu representante para ser realizado o concurso.
A situação de mais de 52% dos trabalhadores em condições precárias de trabalho é o prenúncio da perda de qualidade e reputação do órgão. Desconhece o então presidente o risco para as informações estatísticas do trabalho realizado por pessoal sem estabilidade e por isso mais facilmente submetido aos interesses de grupos políticos e econômicos? Será que ele desconhece a realidade dos trabalhadores temporários que não contam com seguro desemprego, FGTS, aviso prévio, auxílio creche e de saúde e podem ser dispensados a qualquer momento por iniciativa de um único chefe? Será que é esse o modelo de trabalho que ele acha razoável?
Por fim, o desconhecimento histórico ao utilizar a música de Milton Nascimento ficou evidente no uso deslocado da canção de resistência à Ditadura Militar “Nada será como antes”. Rios Neto utilizou o “nada será como antes” para dizer que a estrutura de trabalho do IBGE será outra após a pandemia, mas, em verdade, quando Milton compôs e cantou os versos dessa música estava anunciando um tempo de esperança, direitos e empregos que venceria o obscurantismo da Ditadura Militar. Por esta razão, a letra de Milton não possui relação nenhuma com o projeto que está sendo implementado no IBGE baseado na falta de diálogo, precarização do trabalho e muitos tapinhas nas costas.
Em sua segunda tentativa de discurso motivacional com os trabalhadores do IBGE, ficou evidente que Rios Neto, indicado por Paulo Guedes, não está disposto a defender o IBGE perante a iminente precarização e possível perda de reputação do órgão, mas se limita a implementar os objetivos do Governo no IBGE. Como uma marionete, Rios Neto segue pulando e dançando ao som do tambor de Brasília.
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