Nos próximos dois anos, cerca de 50% dos 1,5 mil servidores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já teriam direito a se aposentar, o que torna urgente a recomposição do quadro de profissionais do órgão. O IBGE é responsável por pesquisas socioeconômicas que balizam desde a tomada de decisões de política econômica até a repartição de recursos públicos entre municípios e Estados, entre outras atribuições. “Esse é o maior problema do IBGE hoje”, afirmou o presidente do instituto, Roberto Olinto.
O IBGE está fazendo um levantamento do número de servidores necessário. Olinto estima que ele gire em torno de 4,5 mil a 5 mil. “Talvez um pouco mais.” Em dois anos, o órgão perdeu 1,8 mil profissionais e repôs apenas 500. Há um pedido para a contratação de outros 1,8 mil. “Queríamos fazer uma política de retenção, mas é preciso que sejam liberados concursos”, diz. O órgão também enfrenta um problema de envelhecimento do quadro de pessoal. Algumas atividades, como as da área de geociência, exigem vigor físico, exemplifica.
Além disso há a questão da qualidade. O IBGE tem um número limitado de pessoal de nível superior que pode admitir via concurso. A necessidade de pessoal com ensino médio tem caído por causa de fatores como o uso de novas tecnologias. Seria preciso, portanto, não só aumentar o quadro, mas mudar seu perfil. “Queremos mais concursos que exijam curso superior. Precisamos de economistas, contadores, sociólogos, matemáticos, estatísticos. É fundamental ter esse tipo de profissional”, diz.
O aumento de pessoal qualificado é necessário para ampliar e renovar pesquisas estruturais, como a de orçamento familiar (POF), que serve de base para a ponderação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que mede a inflação oficial do país. Sem recursos, contudo, esses levantamentos não têm sido feitos em seus prazos normais. A POF, por exemplo, deveria ir a campo a cada cinco anos, mas foi realizada em 2008/2009 e agora em 2017/2018, quase dez anos depois. O IPCA poderá ser ‘reponderado’ pela nova versão da pesquisa em 2019.
A não realização da POF no prazo correto fez o país perder um ciclo histórico de informações, sobre a cesta de consumo do brasileiro no período pós-crise 2008/09. O órgão estuda a realização de uma POF Contínua, uma pesquisa estrutural feita ao longo de todo o ano, como a Pnad Contínua, que visita 70 mil domicílios por mês. Mas, mais uma vez, a falta de pessoal é um dos entraves.
O Censo Populacional 2020, que tem custo de R$ 3 bilhões, deve ser feito no prazo. Uma parte pequena dos recursos foi liberada neste ano, mas a maior parcela deve entrar na conta do IBGE em 2020. Cerca de 90% dos custos vão para contratação de pessoal, 300 mil temporários que trabalham de três a quatro meses.
As novas tecnologias e treinamentos podem baratear esses grandes levantamentos. Foi o que ocorreu com censo agropecuário. Ainda assim, a questão orçamentária se impõe. Pela primeira vez, o IBGE tem no Congresso Nacional um assessor parlamentar para defender interesses do órgão.
Na próxima semana, o instituto fará um seminário em Brasília com o objetivo de convencer os parlamentares sobre a importância de reservar recursos para pesquisas e pessoal. As demandas muitas vezes saem do Ministério do Planejamento, a quem o órgão é vinculado, e “morrem” no Congresso.
Durante palestra na Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner) realizada em São Paulo, o presidente do IBGE afirmou que o órgão ficará atento à disseminação de notícias falsas envolvendo dados da instituição durante o período eleitoral.
O aumento dos canais de “produção” de informações, como as redes sociais, tem exigido uma comunicação mais clara das instituições públicas, que hoje também têm o trabalho de combater as chamadas “fake news”, disse. “Institutos oficiais, não oficiais, rede sociais, WhatsApp, tudo isso gera informação. E temos que nos apresentar como um órgão de confiança”, afirma Olinto. A disseminação das fake news afeta o órgão, diz.
“Volta e meia, sai uma notícia associada a uma questão econômica social e o IBGE está envolvido. Temos respondido sistematicamente qualquer comentário”, disse. É uma situação que deve se intensificar com as eleições deste ano. “Vamos atacar o mau uso da informação.”
Um dos desafios, diz, é a informação chegar corretamente e de forma compreensível ao cidadão comum. Ele cita, em tom de brincadeira, as reações às taxas do IPCA: “50% das pessoas acham que o IPCA é errado, porque a inflação que elas percebem na sua casa não é aquela”.
Autor: Ana Conceição
Valor Econômico – sexta-feira, 16 de março de 2018
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