Na terça-feira, 14 de maio de 2019, a ASSIBGE-SN enviou nota ao Banco Mundial, solicitando esclarecimentos sobre a conduta da senhora Arianna Legovini (Diretora do Departamento de Avaliação de Impacto para o Desenvolvimento Econômico – DIME) , que esteve reunida com parte do corpo técnico do IBGE no final de março deste ano. Confira, a seguir, a íntegra do texto:
Nota ao Banco Mundial
No dia 26 de março de 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) recebeu a Diretora do Departamento de Avaliação de Impacto para o Desenvolvimento Econômico (DIME), ligado ao Development Research Group do Banco Mundial, Arianna Legovini, para uma palestra intitulada Estratégias para a Transformação dos Resultados.
Ao longo da sua palestra Legovini apresentou sua experiência em qualidade de dados e criação de ecossistemas de dados de baixa e alta frequência, com vistas à integração de dados existentes e novos. Apresentou algumas experiências internacionais, conferindo um importante espectro da diversidade que caracteriza o cenário contemporâneo dos sistemas nacionais de informação.
Ocorre que, em dado momento da sua conferência, a pesquisadora decidiu trazer ao debate o censo demográfico brasileiro apontando, inclusive, uma série de críticas ao projeto do Censo Demográfico 2020. Nada mais corriqueiro no cenário das relações interinstitucionais, ao qual o IBGE sempre se submeteu dialogando com atores nacionais e internacionais, com vistas ao aprimoramento dos seus processos de produção, ou mesmo assumindo a condição de agente estratégico de cooperação para o aprimoramento do cenário estatístico internacional.
Entretanto, causou imenso desconforto ao corpo técnico da instituição a abordagem utilizada pela pesquisadora, que ignorava absolutamente todo processo de trabalho desenvolvido ao longo do atual ciclo censitário brasileiro, iniciado em 2016, e marcado, como de costume, por um sólido programa de trabalho que envolveu grande parte do seu corpo técnico, acompanhado por uma amplo processo de consultas, seminários, inclusive financiados pela própria Nações Unidas, testes de campo e de laboratório que conduziram a definição do projeto do Censo Demográfico 2020.
Legovini foi questionada sobre algumas das suas recomendações, que incluíam a redução pouco fundamentada do tamanho do questionário, desconsiderando as implicações diretas e indiretas de eventual decisão, como se um instrumento de coleta não constituísse um corpo harmônico em si, e em relação à realidade do ecossistema estatístico do país, mas apenas uma seleção de perguntas alinhadas de forma, aparentemente, pouco racional. Nada mais distante do processo de trabalho que conduziu o censo demográfico brasileiro a uma condição de destaque internacional, reconhecido por toda comunidade acadêmica e instituições internacionais.
Da mesma forma, causou estranheza a todos a possibilidade de alteração do plano amostral da próxima operação censitária brasileira, indicando uma amostra de 9 mil domicílios – uma imperícia técnica gritante – como suficiente para atender ao censo brasileiro, ignorando aspectos técnicos e deveres legais do IBGE, que deve subsidiar o país com estatísticas que permitam elaborar políticas públicas nos níveis municipais e intramunicipais, sendo o Censo o principal veículo para produzir tais insumos. A diversidade e diferenças sociais ainda existentes no país requerem um questionário que permita conhecer essas realidades e um desenho amostral que possibilite a representatividade estatística dessas informações.
Adicionalmente, Legovini apresentou as suas proposições em total desatenção aos ritos da cooperação internacional que prezam pela horizontalidade como ponto basilar do processo. Questionou os responsáveis técnicos de forma desrespeitosa, lançando dúvidas sobre as decisões que nortearam um projeto estratégico para a sociedade brasileira, e se disse convencida de que a proposta não possuía consistência técnica, apesar de reconhecer que não atua ou atuou como especialista em amostragem estatística ao longo da sua carreira.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é um patrimônio brasileiro e conta com um corpo técnico reconhecido pela sua expertise. O IBGE possui uma importante relação de décadas com agências e órgãos internacionais, exercendo uma importante liderança regional no tocante a produção de informações oficiais, e atuando internacionalmente com destaque, inclusive com reconhecimento da própria ONU, que premiou o projeto dos centros de referência em recenseamento digital no continente africano, alavancado tecnicamente pelo IBGE, como um dos cinco melhores projetos de cooperação internacional no ano de 2018.
O IBGE possui uma relação de décadas com o Banco Mundial, marcada pelo diálogo e reconhecimento mútuo entre parceiros que trabalham pelo fortalecimento das instituições e reconhecem na pesquisa, com rigor metodológico, o caminho para o desenvolvimento das nações. Diante dessa premissa o corpo técnico do IBGE, reunido em plenária da sua Direção Nacional, vem questionar aos representantes do Banco Mundial se o evento narrado é de conhecimento do Banco Mundial e se a instituição corrobora com a posição e propostas apresentadas pela Srª Legovini.
Por fim, o corpo técnico do IBGE destaca que a intervenção da Srª Legovini se desdobrou em um desgastante processo de questionamentos ao projeto técnico original, amparados parcialmente na intervenção da Srª Legovini, e que podem significar um prejuízo incalculável ao censo demográfico brasileiro, à imagem do IBGE, e à imagem do Banco Mundial, por romper com a tradição de excelência técnica e respeito interinstitucional que marcaram a atuação do Banco Mundial.
Nossas instituições forjaram suas identidades através de uma trajetória de rigor técnico e atenção aos interesses da sociedade em suas diferentes escalas. Nesse percurso não existe espaço para a observação dos interesses e projetos individuais que rompam com a impessoalidade institucional. O corpo técnico que vos subscreve garante que o IBGE seguirá nesse caminho e nutre a mesma expectativa em relação aos seus parceiros.
Cordialmente,
ASSIBGE – Sindicato Nacional dos trabalhadores do IBGE
Maio de 2019
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