Aos participantes do workshop “O Futuro da Estatística: uma discussão sobre o uso de registros administrativos no Brasil” –
As instituições produtoras de informações e conhecimento tem sido alvo de ataques por parte do atual governo. Trata-se de uma política deliberada, tendo como pano de fundo desacreditar a produção científica e tecnológica brasileira, privando a sociedade da capacidade de analisar a realidade e promover mudanças, bem como do Estado de implementar políticas públicas que se pautem pela racionalidade e não por achismos ou interesses específicos
dos seus governantes.
No IBGE não é diferente. Apesar de todas evidências demonstradas pelo corpo técnico, a atual direção do órgão insiste nos cortes no Censo Demográfico 2020, desrespeitando todo o trabalho acumulado neste ciclo censitário:
consultas à sociedade, duas provas piloto, seminários nacionais e internacionais, encontro com usuários e os ritos de aprovação do questionário.
Não se trata de uma teimosia do corpo técnico envolvido, pois os próprios técnicos fizeram proposta de redução do questionário que levava em consideração a avaliação da segunda prova piloto, que não foi sequer levada em conta pela direção. A redução do questionário atinge temas como o valor do aluguel, renda domiciliar, posse de bens duráveis, imigração/migração, registro sobre frequência à rede pública ou privada de educação. Desses pontos derivam políticas públicas fundamentais.
A direção do IBGE insiste que as perdas do questionário do censo serão compensadas por Registros Administrativos. Por parte dos trabalhadores não há nenhuma oposição à incorporação sistemática e crescente dos
registros, como parte do Sistema Estatístico Nacional, à produção do IBGE. Ainda que saibamos de muitas limitações, tendo em vista o grau de informalidade de grande dimensão da vida dos brasileiros, compreende-se que seu uso é salutar para promover a otimização dos recursos públicos. E essa iniciativa não é novidade para o IBGE.
Entretanto, não é razoável que os registros sejam oferecidos como alternativa para cobrir as lacunas deixadas pelos cortes no questionário do Censo 2020 sem que haja testes que garantam a viabilidade dessa substituição, e sem
que sejam capazes de substituir as informações retiradas para os 5.570 municípios. Neste sentido, ao oferecer o que não é possível cumprir, a direção do IBGE promove um estelionato estatístico. Insistir nesta tecla é ludibriar a sociedade, é especular com dados e omitir a realidade.
A ASSIBGE – Sindicato Nacional reivindica a retomada do projeto técnico original do Censo
Demográfico 2020, bem como o resgate da autonomia técnica do IBGE. Dessa forma, seria possível assegurar a credibilidade do Censo e do IBGE, órgão público de reconhecimento internacional. O Sindicato reivindica também a
integridade da verba necessária ao Censo 2020, dentro do que foi programado originalmente.
Ainda há possibilidade de reverter as decisões tomadas. Basta que o governo brasileiro e a direção do IBGE ouçam seus técnicos e a comunidade científica.
Executiva Nacional
ASSIBGE – Sindicato Nacional
Agosto/2019
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