RIO – Uma versão mais enxuta do questionário do Censo Demográfico 2020 foi apresentada nesta segunda-feira (27) pelo novo diretor de pesquisas do IBGE, Eduardo Rios-Neto, durante reunião com membros da Comissão Consultiva do Censo, no Rio de Janeiro. Indicado pela nova direção do IBGE, que tomou posse em fevereiro, Rio-Neto prevê cortes adicionais no questionário e enfrenta forte resistência do corpo técnico do instituto, que circulou uma carta apontando que não respalda a proposta e ameaça recorrer a órgãos de controle.
Na versão apresentada nesta segunda-feira, o questionário básico — respondido por todos os domicílios do país — teria 27 perguntas, dez a menos do que o previsto nos testes realizados no ano passado. Foi retirado do questionário o bloco sobre emigração internacional, migração interna, uma pergunta sobre destino do lixo. Esta é a terceira versão proposta para corte desse questionário, a primeira feita após a exoneração do então diretor de pesquisas Claudio Crespo, que era considerado resistente aos cortes.
Já a proposta para o questionário da amostra — respondido por aproximadamente 10% dos domicílios — reduz para 70 o número de questões, cerca de 40% menor do que a versão original testada pelo IBGE em campo no ano passado, que previa 112 questões. Essa terceira proposta corta adicionalmente uma série de questões sobre posse de bens, deslocamento para o trabalho e outras perguntas pontuais, como se morador estuda em rede pública ou privada. A versão anterior já havia excluído parte das perguntas sobre renda.
Empossada em fevereiro deste ano, a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, defende a redução do questionário do Censo, que vai a campo em meados do próximo ano, alegando que isso melhoraria a qualidade das respostas obtidas com a pesquisa. A ideia é que um questionário menor permite aos recenseadores entrevistar mais pessoas no mesmo período de tempo e voltar aos domicílios mais vezes, se necessário. Ocupando menos o tempo e a paciência do morador, ele também tenderia a dar respostas mais precisas.
Servidores criticam
Em carta divulgada nesta segunda-feira, os servidores do IBGE afirmam que o diretor de pesquisas promoveu reuniões nas últimas semanas no instituto e que teria se comprometido a criar um relatório final com uma proposta de questionário que representasse o trabalho conduzido pelo corpo técnico, “algo que não se confirmou”. ”Em particular, a não investigação de emigração internacional no Censo implicará na adoção da hipótese de saldo migratório nulo já nas próximas estimativas e projeções populacionais (prevista para 2023), hipótese essa não respaldada por qualquer evidência empírica”, alertaram.
Servidores do IBGE criticaram nas últimas semanas outros pontos do corte do questionário. Eles alertam que os dados são importantes para planejamento de políticas públicas. Por exemplo, a versão mais recente do questionário da amostra exclui uma pergunta sobre o valor do aluguel. Sem essa informação, não seria mais possível conhecer o chamado “ônus excessivo”, uma das medidas do déficit habitacional. Outras pesquisas do IBGE captam esse tipo de informação, mas não no nível municipal, o que atrapalharia o planejamento de prefeitos.
“Em atenção às nossas obrigações éticas e legais, enquanto servidores públicos de carreira, a partir desse momento, alertamos à atual direção e a essa comissão sobre os aspectos aqui relatados e suas implicações junto aos órgãos de controle cabíveis, quando do conhecimento dos potenciais efeitos dessas decisões para o patrimônio estatístico brasileiro e seus desdobramentos aos entes federados, atores públicos e privados, pesquisa acadêmica e, particularmente, ao erário público”, afirma a carta dos servidores.
O corte do questionário corre em paralelo ao processo de redução do custo do Censo 2020, inicialmente orçado em R$ 3,4 bilhões. O valor final do orçamento será discutido na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). O cenário considerado realista dentro do Ministério da Economia seria de um corte de 25% do orçamento, para R$ 2,3 bilhões. Entre os caminhos avaliados para o corte está reduzir o total de domicílios que respondem ao questionário da amostra e remunerar menos os recenseadores, entre outras.
Por Bruno Villas Bôas | Valor (27 de maio de 2019)
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.