De acordo com Paulo Passarinho, o golpe institucional parlamentar de maio deste ano é fruto de uma crise que abarca um conjunto de crises. Esse conjunto de crises e o golpe têm uma história que as precede. Foi assim que o economista inciou sua intervenção no primeiro debate da série “Que conjuntura é essa?”, promovido pela ASSIBGE-SN.
Para Passarinho o Brasil vive desde os anos 90 um modelo perigoso enquanto sociedade, país e nação, que vem enfraquecendo algumas instituições determinantes para a democracia numa sociedade de 200 milhões de pessoas, com disparidades regionais graves.
A aposta das elites, segundo ele, é no caminho da integração financeira com o resto do mundo, principalmente os capitais mais fortes, destaca. “Criou-se essa idéia de que temos que absorver capitais e tecnologia dos mais desenvolvidos, que vem de fora para dentro.”
Paulo acredita que este modelo se baseia na inflação debelada e controlada, moeda forte, privatização para melhor investir na área social, disciplina fiscal, que formam um discurso aparentemente lógico, mas que é abalado com a crise econômica mundial, porque está subordinado a uma engrenagem internacional.
Passarinho explica que durante o governo Lula havia uma conjuntura internacional extraordinária, e seu governo operou políticas importantes, como a recuperação do valor do salário mínimo e das aposentadorias, ampliou-se o crédito popular no país. Isso levou a legitimação deste modelo econômico. Isso constituiu um pacto que agradou a todos. Só que a crise bateu de novo e chegou de maneira muito cruel no primeiro mandato da Dilma. “Mais uma vez procuraram fazer tudo de acordo com o figurino da ortodoxia. Exportações e concessões eram os focos de Dilma no primeiro mandato, como repete hoje o Temer.”
O economista lembra que Lula e o lulismo vêm da esquerda e de extratos populares, o que acirra o preconceito das camadas médias mais conservadoras. Ele lembra que a conjuntura eleitoral em 2014 conjugava a crise em si, a dificuldade em retomar o crescimento e o elemento da Operação Lava Jato, que expõe as vísceras do “sistema político eleitoral partidário”, de acordo com as palavras de um documento oficial da empreiteira Odebrecht.
Segundo Passarinho, Dilma radicalizou no discurso pseudo desenvolvimentista para ganhar a eleição, mas tinha que se recompor com os avalistas deste modelo. Lula queria o presidente do Bradesco comandando o ministério da Fazenda e quem assumiu foi Joaquim Levy, também representante do sistema financeiro.
Na análise de Paulo Passarinho a crise que explode em 2015 tem como base uma recessão violenta, combinada com uma pauta legislativa regressiva. A reação do governo foi terrível, sua paralisia inviabilizou a indústria do petróleo e todos os setores a ela conectados. “A trama de um golpe, que era ainda apenas uma articulação do PSDB e seus aliados, com apoio da TV Globo, passou a ser uma possibilidade real”. Ele lembra que em agosto articulou-se o programa Acorda Brasil, como inciativa da Fiesp e Renan Calheiros. “O PT e a própria Dilma estavam imobilizados e o PMDB percebeu que a bola poderia ficar para ele. A razão citada para o golpe é a LRF, o que é uma vergonha.”
Passarinho polemiza com alguns setores da esquerda: “Tem uma turma que abriu mão das grandes idéias”, adverte. Para ele a existência de autoritarismo e mandonismo na esquerda não pode servir para justificar a ausência de projetos estratégicos. “A clivagem não é de cor de pele e nem de sexo, mas isso tem sido um escapismo das pautas identitárias. O que precisamos é um projeto distinto de país, que englobe essas pautas específicas também.”
O economista afirma que é preciso enfrentar a questão central do modelo econômico que nos rege. “O problema mais grave da crise é que perdemos a nossa identidade nacional.”
Paulo acredita num projeto de reformas dentro do sistema, mas com grande margem de manobra. “É preciso um projeto nacional, popular e democrático, com serviços públicos de alta qualidade, patrocinados pelo Estado.”
Diante disso, Passarinho lança algumas questões: O que queremos para o nosso país? Que papel queremos cumprir no cenário mundial? Quais seriam os objetivos que devemos definir como nossas metas? Não estamos como país nessa fase adolescente ou pré-adolescente? Não estaríamos como um adolescente perdido e dependente químico de drogas poderosas?
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