Cerca de 200 pessoas se reuniram na sexta-feira, 26 de agosto, para debater “Que conjuntura é essa?”, iniciativa da ASSIBGE-SN e do Instituto Cultiva, por convite da Escola da Cidadania da ISFA, Igreja de São Francisco de Assis, em Ermelino Matarazzo, Zona Leste da capital paulista. Uma delegação de companheiros de diversos Núcleos e da Executiva Nacional da ASSIBGE-SN participou do evento, que contou com o sociólogo Ricardo Antunes e o economista Cesar Locatelli. Confira as fotos em anexo.
Coerente com o documento elaborado pela ASSIBGE-SN, o companheiro Cássius de Britto fez a primeira exposição, ressaltando que os indicadores sociais e econômicos dos cem dias do governo Temer não apresentam recuperação e que o PLP 257 e a PEC 241 são tenebrosos para a classe trabalhadora. Cássius destacou que “a imagem que não sai das nossas cabeças é aquela da posse de Temer, ao lado de homens brancos, velhos, gente da antiga política. Nenhum negro, nenhuma mulher, nenhum homossexual”.
Veja o que disseram os convidados
Ricardo Antunes
Sobre o golpe – “Por que é um golpe? Estamos numa época em que as classes dominantes em escala global e latino americana arquitetam golpes de diversas formas. É um golpe arquitetado pelo parlamento brasileiro, que tem tradição golpista. O parlamento brasileiro é inqualificável. É um parlamento pantanoso. O PMDB, que até ontem estava com Lula e Dilma, comanda um processo de ruptura institucional. O PSDB viu no golpe uma saída porque não consegue vencer nas urnas. A mais recente demonstração da crise institucional é o debate sobre a operação Lava jato, entre o STF e o Ministério Público Federal.”
Os objetivos do governo Temer – “Qual é a medula do governo Temer? O governo temer desde logo define que é preciso desmontar o orçamento dos constrangimentos positivos impostos pela Constituição de 1988. Isso para impor uma demolição dos direitos sociais do trabalho em tal intensidade que, se deixarmos, eles vão destroçar a CLT no que ela tem de mais positivo. Uma das medidas mais nefastas é privatizar tudo que restou para entregar ao capital. Da Petrobras as universidades públicas.”
Terceirização geral – “O PLC 30/2015 diz que a partir de sua aprovação todas as atividades podem ser terceirizadas. Isso já foi aprovado na Câmara e foi para o Senado. Até então não se poderia terceirizar as atividades fim, somente as chamadas atividades meio, alegando que vai levar os direitos a todos os terceirizados. Ainda dizem que terceirizar vai gerar mais empregos. Vocês conhecem algum trabalhador que prefere ser terceirizado?”
Precarização e escravidão – “O maior contingente de terceirizados é composto de mulheres, cujos salários são ainda menores que os dos homens. É entre os terceirizados que os acidentes de trabalho são mais violentos. O Cassius citava o caso dos temporários no IBGE, mas a Petrobras tem ampla maioria de terceirizados. Os que morrem nas plataformas é predominantemente de terceirizados. Se o PLC 30/2015 for aprovado nós reintroduziremos a escravidão no Brasil.”
Lutas vitais – “Se as classes dominantes chegarem a conclusão que o governo Temer está aquém de seus interesses, poderão lançar mão deste recurso de levar a escolha de um Presidente da República para o parlamento. Os movimentos sociais têm ensinado muito. Quais são as lutas? A terra, o trabalho, a educação pública, a igualdade de gênero são vitais. Temos que repor o tema do socialismo na ordem do dia. Alguém imagina que teremos terra, pão, trabalho e liberdade sob o capitalismo? Nós precisamos buscar alternativas e a América Latina é um laboratório das lutas sociais. Nós queremos o direito da classe trabalhadora lutar pelo que ela produz.”
Cesar Locatelli
Outra economia – “O discurso predominante na mídia é que a crise precisa ser enfrentada na lógica do mercado. Ou seja, reduzir o investimento público, privatizar, reduzir o papel do Estado, etc. Existe outra linha na economia que diz que os economistas neoliberais tentam colocar na sua cabeça que você não pode gastar mais do que ganha. Isso é verdade no núcleo familiar, mas no caso do governo não. Quando se investe além do que se pode, você também arrecada mais. A economia é uma ciência social que trabalha a distribuição de renda, para determinar quem vai ficar com menos e quem vai ficar com mais.”
Juros e concentração de renda – “Vocês sabem quando se gasta por ano com o Bolsa Família? R$ 28 a R$ 30 bilhões, ou meio por cento do orçamento do país, distribuídos por 13 milhões de pessoas. Isso atinge cerca de 50 milhões de pessoas. Vocês sabem o que se gasta por ano de juros da dívida no Brasil? Cerca de R$ 600 bilhões. Esse dinheiro vai para quem empresta para o governo, ou seja, os bancos. Na prática são 20 mil famílias. O governo Temer quer o que? Diminuir o programa Bolsa Família, mas ninguém fala em reduzir o pagamento dos juros. Portanto, a taxa de juros é o maior fator de concentração de renda do Brasil.”
Dedo na ferida – “Quando a Dilma reduziu a taxa de juros a 7,5% ao ano em 2012, a menor taxa de todos os tempos, ela mexeu com interesses poderosos. E de lá para cá as coisas começaram a ficar feias para o governo. Criou-se instabilidade política de 2012 para cá, com a subida do dólar e mais inflação. A isso se somaram as medidas adotadas no primeiro ano do segundo governo Dilma, com um banqueiro no comando da economia, o que forçou o aumento da gasolina e de outros preços públicos, gerando mais inflação, recessão e descontentamento popular.”
A Executiva Nacional da ASSIBGE-SN agradece ao Padre Ticão e sua equipe pela recepção calorosa aos nossos companheiros. O documento elaborado pela ASSIBGE-SN será reproduzido, na íntegra, aqui no Portal do Sindicato.
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