Gilson Graciano dos Santos é imigrante de Guiné-Bissau, naturalizado brasileiro em 11 de abril do ano corrente, tem residência e domicílio em Curitiba. Ele está trabalhando como recenseador do Censo Demográfico 2022 e foi vítima de racismo e xenofobia durante o trabalho.
Na data de 05 de novembro, sábado, no exercício de suas funções, Gilson passou a receber mensagens de texto e voz de cunho xenofóbico e racista de uma moradora do bairro Jardim Santos Dumont.
Gilson é um homem preto retinto. Talvez por isso, por muitas vezes encontra mais resistência a ser recebido do que muitos de seus colegas, o que o leva a realizar todas as suas tarefas profissionais com extremo cuidado e atenção.
O que gerou o desagrado da moradora foi o fato de ter encontrado uma folha de recados padrão do IBGE, deixado muitos dias antes em sua caixa de correio (antes de ter respondido ao Censo). Daí, a mesma concluiu que o Recenseador tinha interesse em refazer a pesquisa. O que não era verdade. O desencontro fez com que a moradora se visse no direito de expelir racismo e xenofobia em mensagens enviadas à vítima.
Nas mensagens de áudio, enviadas pelo aplicativo WhatsApp, a moradora diz, dentre outras coisas:
“(…) pois, então, Gilson, eu exijo que você esteja em 5 minutos aqui na minha casa (…) você já está incomodando a minha vida (…) você é até estrangeiro, você nem deveria estar fazendo nada aqui no Brasil (…) Você deve ser do Haiti ou algo assim (…) Eu estou com medo aqui (…) Talvez você esteja querendo entrar na minha casa, roubar, não sei (…) Eu quero que você identifique-se… Fale de qual país de origem você veio porque você não é brasileiro (…) Vou entrar em contato com o IBGE porque você está me incomodando e sendo mentiroso e eu vou gravar quando você vier aqui.” (sic)
Como se não bastasse, depois, enviou a seguinte mensagem de texto:
“Estou te esperando aqui Senhor Gilson nesse momento para responder novamente essa pesquisa do IBGE ou volte lá para seu país fazer merda não aqui com trabalhadores responsáveis. Se você não é, isso não é problema meu. Estarei te esperando agora com a câmera ligada para gravar.”
Gilson relata que mesmo na entrevista, feita anteriormente às mensagens enviadas, já havia se sentido hostilizado por conta de alguns percalços que ainda encontra com a língua. Ao se deparar com essas mensagens em seu aparelho de coleta, Gilson ficou completamente abalado. Entrou em contato com seus supervisores, relatou o ocorrido e emocionou a todos com suas lágrimas e com a sensação de que estamos muito longe de conseguir alcançar alguma civilidade.
Assim, abalado com a situação e certo de que crimes desse tipo não devem ser tolerados em uma sociedade civilizada e, estando diante dos crimes de desacato (art. 331 do CP), de racismo e de xenofobia (art. 20 da Lei 7716/89), Gilson registrou Boletim de Ocorrência.
A ASSIBGE-SN repudia o ocorrido e reforça o entendimento que os crimes de racismo e xenofobia são gravíssimos e precisam ser apurados com rapidez e que os culpados sejam responsabilizados segundo a lei.
Reivindicamos também que a direção do IBGE venha a público prestar solidariedade e apoio aos trabalhadores do Censo Demográfico. São muitos os casos de violência às equipes do Censo Demográfico Brasil afora e o órgão não pode se omitir diante dessas graves violações.
Saudações sindicais,
ASSIBGE Sindicato Nacional
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