A escalada do governo Bolsonaro contra a produção e análise de dados no Brasil atinge seu ponto mais alto com a intervenção militar no Ministério da Saúde, em plena pandemia de covid-19. O que aparentava ser apenas uma troca de ministro levou à tentativa de sonegação de dados e ocultação da memória de informações sobre a evolução de mortes e de infectados pela doença. O governo chegou a cogitar que o MS recontaria o número de casos no país.
Além de não conceder mais entrevistas coletivas diárias para dar ciência do andamento do combate à pandemia e as iniciativas do governo federal, o Ministério da Saúde deixou de publicar os números totais de óbitos e de casos confirmados da doença no país, além de atualizar apenas as informações de cada dia por volta das 22h. O detalhamento dos dados por estados também sumiu da página do MS.
O descaramento é tamanho que o próprio Presidente da República anunciou que o MS optou por divulgar o balanço diário mais tarde para “evitar subnotificações e inconsistências”. Até o início de junho esses dados eram divulgados por volta das 19h, o que permitia sua ampla divulgação pelos meios de comunicação.
O que ocorreu foi uma intervenção da Presidência no Ministério da Saúde, visando impedir o acesso da sociedade aos dados detalhados da doença, em função da escandalosa ausência de política e o fracasso do próprio governo federal, que deveria coordenar o combate à pandemia. Vinte e cinco técnicos de carreira já foram substituídos por militares.
A mesma conduta foi adotada com relação à divulgação dos dados do desmatamento da Amazônia, pelo INPE, e com o Portal da Transparência, que deixou de apresentar informações sobre as despesas do Presidente e dos ministros.
Trata-se de um cenário preocupante, visto que a sonegação de dados é a porta de entrada para a manipulação da realidade e ausência de possibilidade da sociedade acompanhar os resultados das políticas públicas.
Desde a alteração do questionário do Censo 2020, que deixou de lado dados importantes para o conhecimento pleno da realidade sócio econômica da população brasileira, a ASSIBGE-SN alerta a sociedade para os riscos que este tipo de intervenção governamental representa para a produção de dados no país.
As mudanças na divulgação de dados sobre a covid-19 pelo Ministério da Saúde confirmam que não se trata de uma questão isolada, mas de uma política de governo, que precisa ser desmascarada e corrigida.
Isso só confirma a necessidade da afirmação da AUTONOMIA TÉCNICA dos órgãos públicos, cujo trabalho deve estar voltado exclusivamente para os interesses da população, com base no conhecimento científico e no acompanhamento da realidade. Daí a importância de um corpo técnico contratado por concursos públicos, sem a interferência política de governantes e governos de plantão.
A ASSIBGE SN repudia as tentativas do governo de esconder a realidade e segue alerta quanto a qualquer tentativa de interferência na produção e divulgação dos dados do IBGE.
Executiva Nacional
ASSIBGE – Sindicato Nacional
8 de junho de 2020
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