A direção do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apresentou nesta segunda-feira (27) ao Conselho Consultivo do Censo Demográfico uma proposta para reduzir ainda mais o questionário para a pesquisa de 2020, afirmou o sindicato de trabalhadores do instituto, que acompanha as discussões
A ideia é que as questões do questionário básico —aplicado em 90% dos domicílios brasileiros— caiam para 27, ante 37 da proposta original, segundo a entidade. Já o questionário da amostra (uma versão mais detalhada da pesquisa) passaria de 112 para 70 perguntas.
Entre os itens que poderiam ser excluídos estão perguntas sobre renda, imigração, gastos com aluguel e posse de bens como geladeira e telefone celular.
Uma ideia, segundo o sindicato, seria que o questionário básico contivesse apenas pergunta sobre a renda do responsável pelo domicílio (e não mais a renda total dos moradores), o que poderia prejudicar a elaboração de índices relativos a desenvolvimento humano e pobreza.
Já a ausência de uma questão específica sobre o valor de aluguel pago pelo domicílio, por exemplo, tornaria impossível para o instituto calcular o déficit habitacional do país.
Após reunião com o conselho nesta segunda, o diretor de Pesquisas do IBGE, Eduardo Rios-Neto, falou com a imprensa, mas não confirmou os números. Perguntado se o questionário da amostra foi para 70 itens, respondeu: “Um pouco a mais, um pouco a menos.”
Ele disse que vai apresentar a proposta ao corpo técnico do IBGE e que a reunião deve acontecer o mais rápido possível, “se der, amanhã”. Mas ele afirmou que não abrirá mão da decisão final sobre o formato —sindicalistas têm questionado a falta de diálogo na elaboração desta última proposta.
“Ranger de dentes faz parte. Eu estou muito tranquilo que o produto que vai ser apresentado reflete o trabalho do IBGE e os limites do possível, inclusive na interação com o conselho consultivo. Não fui nem um pouco ditatorial”, afirmou Rios-Neto
Ele negou que o corte no Censo seja por restrição orçamentária. Disse que é “uma questão de cobertura e enumeração” e que não lhe foi colocado nenhum parâmetro econômico.
Rios-Neto foi nomeado o início de maio pela atual presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra. Ele chegou ao instituto após determinação de corte de 25% no orçamento da pesquisa, feita por Guerra em abril. O orçamento inicial era de R$ 3,4 bilhões.
Realizado a cada dez anos, o Censo é a maior pesquisa feita pelo IBGE, com visitas a todos os 5.570 municípios brasileiros. Tem por objetivo fazer um retrato da população brasileira para contribuir na formulação de políticas públicas e na destinação de verbas.
A área técnica do IBGE já apresentou duas propostas de redução —a última chegando a 84 questões na amostra e 32 no básico.
Em carta desta segunda ao conselho consultivo do Censo, o corpo técnico afirmou que “não respalda qualquer proposta distinta daquela apresentada à presidência do IBGE no dia 30 de abril de 2019, assim como qualquer outra alteração do projeto do Censo Demográfico 2020 que não observe os ritos técnicos adequados ao planejamento de longo prazo, típico do censo demográfico”.
Na avaliação do governo, um questionário menor economiza tempo dos recenseadores, que poderiam visitar mais casas, reduzindo os custos para realizar a pesquisa. Ao todo cerca de 250.000 pessoas estarão envolvidas na coleta e análise dos dados.
Técnicos do IBGE defendem que o tempo de aplicação da pesquisa gira entre 7 e 21 minutos, dependendo do questionário a ser aplicado, e que deslocamento e retorno de recenseadores a residências para segunda visita tomam a maior parte do tempo.
Em entrevista à Folha há duas semanas, Guerra disse que o tamanho do questionário só será definido após avaliação por Rios-Neto. Ela defendeu que parte das informações pode ser coletada por internet ou em registros administrativos —dados da Polícia Federal sobre emigração, por exemplo.
A presidente do IBGE alega que a redução do questionário é tendência mundial. “Nos dias de hoje, o cidadão está muito menos propenso a responder a um questionário de cem perguntas”, afirmou.
A área técnica do instituto alerta, porém, sobre a promoção de mudanças às vésperas da realização do Censo. Em setembro, o IBGE deve realizar o Censo Experimental e, segundo o cronograma original, o questionário deve ser ajustado até o dia 14 de junho.
Ana Luiza Albuquerque, Anaïs Fernandes e Nicola Pamplona
www.folha.uol.com.br – 27 de maio de 2019
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